A franquia Kokaku Kidoutai j conta com diversos trabalhos desenvolvidos em diferentes mdias. Programas televisivos longametragens OVAs mangs light novels games... Com um vasto universo expandido fica evidente a gama de temas abordados passveis de anlises.
Como um vido f j escrevi artigos sobre o Longa de 1995 e a primeira temporada do show de TV Stand Alone Complex. Portanto sigo neste texto a segunda parte do show que ficou conhecido como SAC 2nd Gig.
Para encurtar esta introduo e forcarme um tanto mais no que for realmente essencial ou seja as reflexes abordadas pretendo saltar pelos detalhes mais precisos do show pontuando apenas questes situacionais.
A srie televisiva Stand Alone Complex situa o expectador no futurista ano de 2030. A tecnologia avanou de maneira que a difuso de uma extensa rede cyberneural bem como a conquista cientfica dos corpos binicos tornaram como extremamente raras as pessoas que ainda possuem corpos 100 biolgicos. Em contra partida a facilidade que os cybercbros possuem para manterse conectados a vasta rede neural ocasionou uma srie de novos problemas. Uma vez que possvel desconectarse do prprio corpo e residir em outro completamente diferente atravs dos denominados ghosts temse por difcil a capacidade de apreender iminentes cybercriminosos.
neste mbito que surge o trabalho da Seo de segurana pblica especializada a Seo 9. Como j citado o show dividido em duas partes chamadas de Gigs em que cada parte nos apresenta pequenos casos investigativos que esto ligados a um caso maior. O 2nd Gig por exemplo tem como grande trama a investigao de um delicado caso de refugiados que esto diretamente ligados a outros temas centrais como corrupo governamental alienao social controles mentais...
No entanto ainda que dono de um universo extremamente bem construdo a franquia chama ateno de seus fs pelas questes filosficas levantadas.
Fazendo aluso ao trabalho de Arthur Koestler O Fantasma e a Mquina 1965 Ghost in the shell bombardeia o ouvinte com os levantamentos acerca da existncia cartesiana.
Koestler por sua vez desenvolve sua hiptese baseandose nas reflexes do filsofo britnico Gilbert Ryle o criador do termo The Ghost in the Machine. Enquanto Ryle apresentava uma srie de crticas ao dualismo cartesiano Koestler centrou seus trabalhos na tentativa de explicar o funcionamento individual e coletivo do crebro humano atravs do comportamento autodrestutivo do ingls selfdestructive behavior.
Tentando explicar a violncia humana Koestler apresenta duras crticas se opondo ao pensamento dominante poca sobre a concepo darwiniana de evoluo das espcies. Centrando o debate na filosofia descartiana Arthur fundamenta seu argumento na ideia de que a experincia pessoal dualista surge nas observaes de que a natureza ao mesmo tempo parte e o todo de algo maior. Como tomos que so um todo em si mas partes de molculas.
O termo cunhado por Ryle Fantasma na Mquina apresentava uma crtica ao pensamento cartesiano de corpo e mente separados mas existentes lado a lado.
Em seu livro O Conceito de Mente1949 Ryle chega a afirmar o dualismo mentecorpo como um erro lgico e categrico chamandoo de iluso filosfica. Atravs de uma srie de investigaes Ryle aponta como principal erro de Descartes o fato de isolar processos mentais de seus correspondentes processos fsicos.
O show exemplifica muito bem esta temtica. O episdio entitulado A tarde das Mquinas gira em torno de um grande dilogo entre os dispositivos Mechas sobre individualidade mente sensaes fsicas e neurais bem como a existncia da alma. O fato dos robs encontraremse em uma espcie de dimenso fora do tempoespao sintetiza muito bem esta ideia de separao de processos fsicos e mentais.
Talvez o ponto central do episdio sejam as indagaes feitas pelos tachikomas sobre indivduos e individualidade. Na busca pelo Onze Individual os autmatos da Seo 9 argumentam sobre como pessoas diferentes possuindo cada qual suas particularidades agiam como um nico indivduo. Como clulas aglomeradas formando um s organismo. Ao passo que refletem sobre o prprio sistema uma vez que sendo capazes de sincronizarem e agirem como um nico sistema cada tachikoma ainda conseguia preservar sua prpria individualidade.
Ao sincronizar o sistema de informaes entre si conseguiam tambm sincronizar suas atividades biolgicas. O que os levava as reflexes sobre serem indivduos participantes de um grupo ou apenas uma identidade individual compartilhada. E como ainda que sendo um todo homogneo destoava a ideia de um terceiro vnculo superior ao dualismo quando mesmo que preservassem a homogeneidade cresciam sua autoconcepo de indivduo exterior.
Mas todos estas indagaes apontam para algo anterior ao indivduo e a individualidade: a prpria conscincia.
Seria mesmo possvel distanciar relaes fsicas das mentais?
Tomemos o problema filosfico mentecorpo. Ele estabelece um horizonte para estes questionamentos deriva. Sentimentos de tristezas humorados e de aflio despertam reaes fisiolgicas como lgrimas risos e dores. Com isto em mente quais apontamentos testificariam tais ocorrncias?
O ponto de partida da filosofia de Ren Descarte a descoberta da conscincia por si mema o Penso. Logo existo. Ou seja impossvel duvidar da existncia da conscincia pois para duvidar seria necessrio a prpria conscincia. De modo que ao apronfudarse neste exame da conscincia seria possvel validar a noo do objeto do conhecimento. Criando assim uma relao de dvida metoddica entre a realidade e o objeto observado.
justamente nesta ideia de dvida metdica que encontrase o erro de Descartes. Dvida uma hesitao entre dois estados um de afirmao outro de negao.
Isto torna a indagao descartiana impossvel Para que haja dvida de algo necessrio que haja uma verdade anterior.
Ora pois Como seria possvel se relacionar com os elementos de ordem fsica duvidando ao mesmo tempo de sua existncia? Seria possvel quando sentir fome duvidar da existncia de alimentos? Ou mesmo duvidar da existncia da prpria fome?
Portanto por que o Eu congnocente deveria se voltar contra o Eu existente como sugere Descartes?
Se a ideia de Dvida Universal for verdadeira se duvidarmos no sentido filosfico como no sentido prtico da coisa certamente no sairemos do lugar.
Apesar disto Descartes ainda seguiu em frente com suas meditaes filosficas fundamentandoas a partir da existncia de um deus maligno que teria supostamente criado este sistema de aparncias sensveis com a finalidade nica de enganarnos.
O filsofo Edmund Husserl chega a afirmar em seu livro Meditaes Cartesianas 1931 que Descartes inventou o comeo da filosofia moderna. Colocando assim a dvida integral cartesiana como o princpio obrigatrio para todas as futuras meditaes.
Todo este embrlio filosfico supostamente tem fundamento a partir de uma certeza nica que a prpria ou seja o Eu que testifica a prpria existncia porque est pensando em si.
Para Husserl o universo constituido a partir do exame da conscincia. Sendo esta conscincia o observador de um objeto. Em outras palavras a conscincia nunca seria algo e sim referirse a algo ou ter conscincia de algo. Tal caracterstica ele chamou de intencionalidade.
Ele ainda explica este exame atravs de uma srie de experincias alcanadas por um mtodo entitulado reteno e proteno. Ou seja o conhecimento se desenvolve no tempo e supomos atravs das aparncias as determinadas essncias permanentes dos objetos.
No entanto se a conscincia for apenas esta srie de experincias adquiridas ao longo do tempo ento se constituiria apenas em uma diferena entre passado e futuro no possuindo de fato consistncia alguma.
E por no possuir contedo algum consiste em autoengano.
Que garantias h de que qualquer exame da experincia reflete a estrutura da experincia em sua aplitude e no apenas em um aspecto?
O erro grotesco de toda esta tradio filosfica reside em afirmar que o Eu humano a conscincia exista apenas como sujeito do conhecimento. Como objeto de si mesmo.
A questo fundamental e ignorada por Descartes deveria ser como os outros sabem que eu existo? Como o ser humano poderia ser sujeito da realidade se no for tambm objeto?
Partiremos do pressuposto do sujeito sendo aquele que recebe informaes tal qual o objeto o que emite. Quando observamos uma mesa dela recebemos informaes luminosas tteis aromticas.
Deste modo somente emitindo informaes que poderiamos receber informaes do meio externo. No exato instante que tocamos a suposta mesa tambm emitimos informaes corporais como a recebemos. Peso temperatura massa corporal...
Em outras palavras o Eu observador jamais poderia ser totalmente passivo. Existiria conhecimento puramente sensvel sem que o observador de outrora tambm no o fosse objeto?
Tomemos outro exemplo sutil: o ato de olhar. No ato de olhar para cima baixo esquerda direita algumas coisas vem ao primeiro plano do campo de viso enquanto outras em segundo plano. Isto tornarianos invisvel ou imperceptvel?
Portanto poderiamos conceber a conscincia por um nico segundo como pura conscincia cognitiva sem nenhuma existncia no espaotempo? De modo algum
Xavier Zubiri filsofo espanhol aponta como resposta que no apenas ns conhecemos a realidade como a dimenso que chamamos de realidade prpria do ser humano. No existem realidades para os demais entes s existem impresses o estado deles.
Em contra partida o filsofo Erik Voegelin descreve em seus trabalhos a existncia como sendo a experincia adquirida atravs da experimentao das estruturas tautologicas que compem a realidade.
Ou seja a essncia do nosso conhecimento participao na estrutura da realidade. E esta participao por sua vez a essncia da realidade. A realidade ao mesmo tempo parte e todo tornandoa objeto de observao de seus participantes.
A mesma estrutura est no objeto porque ele persevera no tempo. Se no perseverasse no tempo este objeto teria uma existncia instantnea e por conseguinte no poderamos percorrlo.
De modo que s podemos ter reteno e proteno de todas as coisas que esto na prpria estrutura do objeto. Elas no podem ser analisadas como se sucedessem somente no sujeito.
No que no podemos observar um objeto por todos os seus determinados lados. O prprio objeto no pode exibirse por todos. O que seria um edifcio em que todos os seus lados fossem um nico lado se no uma tela ou um painel?
Desta maneira como observamos os seres vivos pelas suas superfcies e no os internos estes ocultos estariam longe da realidade.
Por tanto esta limitao no conhecimento a prpria forma de existncia do objeto.
Neste sentido a conscincia de reteno e proteno no invlida sendo antes a perfeita adequao entre dois entes que so ambos objetos e sujeitos. Qualquer ente que receba informaes tambm sujeito quanto quele aspecto.
possvel concebermos algum ente que existente na realidade jamais tenha emitido informao alguma? Mesmo entre uma mera possibilidade matemtica existem relaes lgicas necessrias com outras relaes matemticas e por isto emitem informaes. Mesmo para entes puramente imaginrios.
Assim aqueles entes que existem no tempo e no espao s podem ser conhecidos como reteno e proteno porque s podem existir em reteno e proteno.
Jacques Derrida compreende esta concepo a partir da concepo atomstica do presente. Ou seja o presente passa a ser um limite entre a reteno e proteno. Isto entre passado e futuro.
Porm se reteno e proteno so a forma caracterstica do conhecimento no tempo e que tambm so a forma de existncia do ente no tempo pressupese tambm a existncia da continuidade no tempo.
Ora a continuidade no tempo dse apenas no tempo? Aquilo que sucedeuse durante uma quantidade de tempo quando deixa de acontecer retorna ao nada? Deixa de existir?
impossvel haver tempo se tambm no houver sua continuidade. Ou seja a existncia da eternidade.
Agostinho compreendia o tempo como sendo a forma mvel da eternidade.
Portanto tudo o que existe no tempo tambm o existir eternamente sob a forma limitativa que tem sua existncia no tempo.
Sendo assim o nada o que por conseguinte continuar sendo nada eternamente. impossvel que do nada torne algo e uma vez deixando de haver este algo torne ao nada. Explicitando assim a incongruencia do penso logo existo descartiano.
Como o nada no concebe sua prpria existncia no pode assim alterla tornandoa em algo existente. A auto concepo da prpria existncia tambm o falha em si.
A existncia temporal tem fundamento no eterno. Se assim no o fora teria de existir por si mesma em si mesma.
Desse modo s podemos designar duas coisas por nomes diferentes de tal modo que estes dois termos possuam a mesma significao se e to somente se estas duas coisas possurem o mesmo referente. Ou seja se o referente existir e possuir a mesma unidade.
Por isso tudo o que existe tem necessariamente unidade porque possui continuidade. Se fosse instantneo no poderia ser percebido e portanto conhecido. De modo que se algo conhecido o porque persevera no tempo ou na prpria eternidade.
Mas o tempo em si com que o poderei medir? com um tempo mais curto que medimos um mais longo como medimos uma viga com o cvado? ... Do mesmo modo medimos a extenso de um poema pelo nmero de versos.... Conforme as palavras passam e as pronunciamos dizemos: Eis um poema longo porque se compe de tantos versos ... esta slaba longa porque o dobro de uma breve. Todavia no conseguimos uma medida exata do tempo pode acontecer que um verso mais curto se pronunciado mais lentamente se estenda por mais tempo que um verso mais longo recitado depressa. O mesmo acontece com um poema um p uma slaba. Por esse motivo que o tempo me pareceu no ser nada mais que uma extenso. Mas extenso de qu? No saberia dizlo ao certo seria de admirar que no fosse extenso da prpria alma.
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